
Com música de piano, danças típicas e um discurso didático sobre gênios brasileiros desconhecidos, o escritor paraibano Ariano Suassuna conduziu na noite desta quinta-feira (6) o espetáculo “Chamada ao Piano”, durante a abertura da 13ª Feira do Livro de Ribeirão Preto (SP). A apresentação no Theatro Pedro II, também chamada pelo autor de aula-espetáculo, levantou a bandeira de Suassuna como defensor da cultura brasileira.
Através de composições de artistas pernambucanos do final do século 19 e início do século 20, Suassuna mostrou a durabilidade da música enquanto arte. “Não existe música boa que envelheça. Esse negócio de velho e novo não vale. O Brasil é um grande país, o povo brasileiro é um grande povo. A nossa cultura é admirável”, disse o autor de livros como “A Pedra do Reino” e “Auto da Compadecida”.
Contrário à cultura de massa e à supervalorização do pop estrangeiro, o ocupante da Cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL) afirmou que o brasileiro deveria apreciar mais as manifestações artísticas locais. “O Brasil tem uma enorme unidade. Tem uma diversidade extraordinária, e no campo da cultura diversidade não é impureza. Diversidade é riqueza. A gente precisa se conscientizar disso.” Segundo o romancista, o espetáculo “Chamada ao Piano” é um tipo de projeto que ele gostaria que fosse seguido por outros artistas brasileiros. “Quero mostrar aos nordestinos a importância da arte nordestina. E espero que em outros lugares do Brasil cada grupo descubra a importância do seu lugar.”
Entre as apresentações de choro, valsa, quadrilha, maxixe, marcha carnavalesca e maracatu, Suassuna mostrou a riqueza da produção nordestina e argumentou que a cultura regional passa muitas vezes despercebida pelos brasileiros. “A São Paulo que você frequenta talvez queira ser uma imitação de segunda ordem de Chicago ou de Nova York. Mas ainda existe um belo público de São Paulo verdadeiro e profundo em que você vai encontrar uma cidade tão brasileira quanto Salvador ou Recife”, disse.
Já comparado na imprensa a um “Dom Quixote Arcaico”, Suassuna comentou já ter sido criticado por enaltecer a cultura popular nacional. “Às vezes as pessoas me acusam de ser muito localista. Dizem que a literatura e a arte que eu gosto são coisas condenadas ao gueto nordestino. Faço essa defesa da cultura brasileira e dizem que isto está ultrapassado. Um jornalista disse que eu vivia me esgrimindo dos moinhos de vento da globalização, que é um processo que já venceu. Ele só não sabia que Dom Quixote é o personagem que mais admiro”, afirmou.
Para reforçar o recado ao público presente ao Theatro Pedro II, Suassuna recorreu a uma frase do escritor carioca Alceu Amoroso Lima. “Do Nordeste para Minas Gerais, corre um eixo que não por acaso segue o curso do Rio São Francisco, o rio da unidade nacional. A este eixo o Brasil tem que voltar de vez em quando se não quiser se esquecer de que é Brasil.”
Fernanda Testa G1 Ribeirão e Franca