Nascido e criado em uma fazenda no interior de São Paulo, José Manoel Penteado sempre foi uma pessoa de hábitos simples e saudáveis: gosta de praticar esportes, não ingere bebidas alcoólicas com frequência, nunca fumou e de sobremesa prefere frutas a doces. Na opinião dele, essa é a receita para chegar aos 103 anos de vida – comemorados no último dia 15 – com disposição e saúde.
“Como muito pouco, o suficiente para me sustentar. Não fico me enchendo de carne ou bobagens. Nada em excesso faz bem. Quando muito, tomo uma taça de champanhe na virada do ano, mas não gosto”, conta o idoso que teve quatro filhos, oito netos e nove bisnetos.
Mesmo depois de deixar a casa dos pais e se mudar de São Carlos (SP) para a capital paulista, onde a rotina como gerente de banco exigia 12 horas diárias de dedicação, Penteado conta que respeitava os horários de alimentação e o ritmo de exercícios.
A mesma preocupação que tem com o corpo, o centenário mantém com a mente. Penteado acorda cedo, toma o café da manhã e só levanta do sofá da sala depois de ler todas as páginas do jornal. É ele também quem controla as despesas da casa em que mora com uma das filhas em Altinópolis (SP).
“Meu pai é muito lúcido, a cabeça dele não para um minuto. Ele ainda faz todas as contas de cabeça e os resultados estão sempre corretos. Uma vez fui dar uma calculadora para ele usar e levei uma bronca”, diz a pedagoga Ana Maria Penteado, filha do centenário.
aprendeu na adolescência, quando era escoteiro
(Foto: Cláudio Oliveira/EPTV)
Memórias
Outro hábito mantido por Penteado para exercitar a memória é escrever o dia a dia em um diário. São centenas de páginas que guardam detalhes da vida do aposentado, principalmente da época em que lutou na Revolução Constitucionalista de 1932.
“As moças escreviam cartas para todos os rapazes da cidade pedindo para se alistarem e combaterem por São Paulo. Então decidi me voluntariar. Era um ato de coragem”, conta o aposentado, relembrando um dos períodos mais difíceis pelo qual passou. “Acabei levando um tiro do lado esquerdo da cabeça, durante uma batalha na divisa do estado com Minas Gerais. Demorou um mês para eu me recuperar.”
As lembranças dessa época também estão registradas em fotos e na medalha que recebeu anos depois do governo paulista. “A maioria dos que lutaram ao meu lado já se foram”, diz o centenário, afirmando que está habituado com as perdas. “Minha esposa também se foi, depois o meu filho mais velho, uma neta, amigos. É natural, faz parte da vida.”