Os cupons de desconto, no Brasil, não são nem sombra do imenso negócio que representam nos EUA, onde as lojas distribuem três bilhões de bilhetes do tipo por ano. Ainda assim, ou talvez por causa disso, o nicho tem atraído a atenção de peixes grandes da internet, que apostam que a web pode fazer a moda pegar por aqui.
No mês passado, um gigante digital do País – a Buscapé Company, líder em comércio virtual na América Latina – investiu R$ 300 mil no site Cuponeria , do qual virou sócio.
Dias antes, entrava no ar o CupoNation. Lançado quase simultaneamente no Brasil, na Índia e na Polônia, o site é turbinado por um aporte de R$ 23 milhões da Rocket Internet, fundo alemão que se define como o “maior, mais rápido e mais bem sucedido incentivador virtual internacional”.
“A cultura dos cupons nunca pegou no Brasil porque durante muitos anos a inflação tornava inviável seu uso”, explica Maurício Salvador, sócio da consultoria de varejo Gouvêa de Souza e presidente da ABCOMM, a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico. “Mas, com a facilidade da internet, acho que tem tudo para dar certo”, diz.
“A diferença (dos cupons na internet) é a comodidade. Você não precisa achar folhetos e recortar um bolo de cupons, como o pessoal faz nos EUA: eles podem ser usados pelo celular, que já está com você de qualquer forma”, diz Rodrigo Borges, um dos fundadores do Buscapé.
Os cupons já são apontados como substitutos das compras coletivas, febre que varreu a internet brasileira em 2011, mas perdeu força após uma avalanche de autuações do Procon. São, contudo, coisas diferentes. “Você não paga nada pelo cupom, não há necessidade de um número mínimo de compradores e são grandes varejistas que oferecem os cupons, não o cabeleireiro ou o restaurante japonês da esquina”, diz Maria Fernanda Antunes Junqueira, sócia do CupoNation no Brasil.
Enquanto os usuários ganham descontos e as lojas conquistam novos clientes, esses sites de cupons lucram ao receber uma porcentagem da venda feita através da página. Além disso, vendem espaços privilegiados do site, para varejistas que querem fazer as ofertas aparecerem mais.
Os dois concorrentes têm algumas diferenças. O Cuponeria, sediado no Rio de Janeiro, é mais focado em descontos “offline”, ou seja, você imprime o cupom e leva a uma loja “real” para ter o desconto. O CupoNation, que fica em São Paulo, é totalmente voltado para o comércio eletrônico, disponibilizando só descontos para compras feitas pela internet.
No momento, o CupoNation conta 200 lojas parceiras e cerca de 900 ofertas. Entre os principais varejistas com cupons no site estão Ricardo Eletro, Compra Fácil, Saraiva, Marisa, Lojas Americanas, Walmart, Polishop e Dafiti. “Vamos usar o investimento da Rocket principalmente para marketing e tecnologia. O grande foco será nos anúncios digitais, mas também pensamos em anunciar em revistas e outros meios físicos”, diz Maria Fernanda.
Além do aporte da Rocket, Maria Fernanda destaca a experiência do fundo em comércio eletrônico. “No prédio que ficamos, aqui em São Paulo, existem 15 empresas investidas pela Rocket, algumas já viraram parceiras nossas”, diz. A empresa começou com 10 funcionários e planeja dobrar de tamanho nesse início de ano.
Já o Cuponeria, fundado pelos cariocas Nara Iachan e Thiago Brandão, tem lojas como Pizza Hut, Blockbuster, Saraiva e Dominos. E largou na frente: estava no ar um ano antes de receber o investimento do Buscapé. Nesse período, contou 60 mil cupons usados, 250 empresas parceiras e média de 600 mil usuários por mês.
A parceria com o Buscapé também rende mais que dinheiro ao Cuponeria. “Nós cuidamos de todas as coisas administrativas, para que os fundadores possam se focar no negócio”, diz Borges. “Agregamos divulgação no Buscapé e outras empresas do grupo, podemos usar o aplicativo mobile do Buscapé para alavancar o aplicativo do Cuponeria, além de várias outras sinergias”, diz o empresário.
Mas nem só de Cuponeria e CupoNation vive a onda dos cupons. Uma série de sites como o VivaCupom e o Cuponomia pegam carona nesse mercado, embora normalmente contem com parceiros de menor peso. O próprio Busca Desconto, organizador da Black Friday brasileira , pode ser considerado um concorrente, já que cupons nada mais são que ofertas.
“O brasileiro pode não ter cultura de cupons ainda, mas com certeza adora uma oferta. O sucesso das compras coletivas e da Black Friday mostraram isso”, diz Maurício Salvador. “O risco é: as lojas precisam oferecer descontos reais. Na Black Friday e até nas compras coletivas houve maquiagem de descontos , lojas que subiam os preços antes da promoção. Mas, com as redes sociais, se isso acontecer alguém logo ‘entrega’ – e, na internet, as notícias ruins correm bem rápido”, alerta.
Pedro Carvalho – iG São Paulo