
A vida toda de Lucília Junqueira Meirelles se desenrolou em São Joaquim da Barra. Em sua terra, a 382 km de São Paulo, ela viveu um século.
Lá, casou-se em 1933 com Alcino, um médico mineiro que se formou no Rio e se mudou para São Joaquim por indicação do irmão, morador de um município vizinho. Ele lhe contou que a cidade tinha apenas dois médicos, sendo que um deles estava de saída.
Alcino foi para lá e nunca mais saiu: por duas vezes, foi prefeito, exerceu vários mandatos como vereador, fundou a Santa Casa da cidade e o hospital São Francisco, em Ribeirão, e hoje dá nome a rua e creche em São Joaquim.
Ele e Lucilia, que foi uma grande tenista, como conta a família, também criaram o São Joaquim Tênis Clube.
Enquanto o marido destacava-se por sua mansidão, ela, magrinha e enérgica, era brava e colocava ordem na casa. Além de cuidar dos quatro filhos, abrigou dez sobrinhos que moravam no campo e foram estudar na cidade.
Organizada e exigente, botava de castigo, tirava lição e costurava para as crianças.
Na época da guerra, como a gasolina era pouca e o marido tinha de tratar dos doentes nas fazendas, costurava o filtro que Alcino usava no Ford movido a gasogênio.
Com a morte do marido em 1970, ficou triste e se mudou para a fazenda herdada do pai. Perdeu uma filha em 2000.
Aos 90 anos, idade que comemorou dançando, dividiu a propriedade entre os filhos, mas continuou na sede. Perdeu a lucidez nos últimos dois anos e meio e morreu na segunda-feira (29), aos cem, após uma parada cardíaca. Teve 13 netos e 11 bisnetos.
Fonte: Estêvão Bertoni – Folha de São Paulo