O número de estrangeiros que vieram trabalhar no Brasil cresceu quase 20% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado. Eles não estão encontrando oportunidade em seus países ou têm interesse de ir a outro mercado que está aquecido. Só nos primeiros seis meses deste ano, mais de 26 mil estrangeiros receberam autorização para trabalhar no Brasil. Em sua maioria, são profissionais especializados.
Uma fila de estrangeiros levou a maior empresa mundial de recrutamento online a se instalar em São Paulo. Há um ano, esse escritório nem existia. “Temos cadastradas 350 mil pessoas que têm interesse de vir trabalhar aqui, eles não estão encontrando oportunidades em seus países ou têm interesse de ir a outro mercado que está aquecido e crescendo, como o Brasil, para encontrar emprego com suas qualificações”, diz o diretor da empresa. Ele mesmo deixou a crise dos Estados Unidos para trás, trouxe a família e diz que veio para ficar. “Vou poder crescer como profissional e também ser parte de algo maior, que é o crescimento do Brasil.”
No primeiro semestre deste ano, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, 26.545 estrangeiros receberam autorização para trabalhar no país – 19% a mais do que no mesmo período do ano passado. E esses são apenas os que entraram legalmente. Eles vieram atuar em áreas onde faltam brasileiros qualificados, como na indústria de petróleo e gás que, sozinha, atraiu 8.000 estrangeiros nos primeiros seis meses do ano.
Uma empresa norueguesa veio ao Brasil para se juntar ao esforço que deverá tornar o país um grande exportador de petróleo. Além do capital e da experiência, ela trouxe também engenheiros experimentados para dar início à produção. Shell Brustad é um deles. O norueguês trabalhou 15 anos em estruturas petrolíferas no Mar do Norte. Hoje é o gerente de uma plataforma e tem como missão formar brasileiros. “Eu encontrei aqui gente bem preparada, mas nem sempre com a experiência para operar plataformas oceânicas. Eu posso compartilhar minha experiência com pessoas jovens e inteligentes.”, afirma.
Shell volta para a Noruega no fim do ano e já treina o sucessor, o carioca Leandro Coelho. “Acho que todas as empresas precisam ter essa transferência, da mesma forma que brasileiros vão trabalhar lá fora. A gente precisa de estrangeiros trabalhando aqui no país”, diz o engenheiro.
É um tipo de transferência de conhecimento essencial para o desenvolvimento do país. No primeiro semestre, 2.456 técnicos chegaram em contratos de cooperação.
A maior presença econômica do Brasil no mundo também se refletiu em um campo em que o país era quase irrelevante: o do intercâmbio de universitários e recém-formados. Só em uma das organizações que fazem a ligação entre empresas e universidades o número de intercâmbios multiplicou por oito nos últimos cinco anos. A diretora da organização explica o fenômeno: a possibilidade de trabalhar num país emergente e forte e numa sociedade rica e aberta. “As coisas caminham juntas, então as pessoas vêm, trabalham e acabam se divertindo. É uma cultura muito atrativa”, diz Larissa Armani, gerente de intercâmbio.
Mas para um estrangeiro nem sempre é fácil se adaptar ao nosso ambiente de trabalho. Jeff Jacob, americano de origem indiana que estuda os costumes brasileiros, explica qual é a maior dificuldade que ele enfrenta no banco em que veio trabalhar: “Em um lugar como Nova York, há uma clara divisão entre o que é a sua vida pessoal e a sua vida profissional. Aqui não tem esse tipo de divisão. Quanto mais rápido você se adaptar a isso, melhor será para sua vida profissional”, relata.
A médica italiana Laura Mannarini, talvez por ter origem latina, como nós, não encontrou dificuldade para se relacionar com os colegas do hospital onde faz pesquisas. Ela se incluir entre os estrangeiros que chegam para trabalhar por período limitado, mas que gostam de ficar mais tempo por aqui. “São os brasileiros que fazem esse país realmente único, inesquecível. Eu vou voltar, infelizmente, com o coração quebrado.”
Fonte: EPTV