A mercearia é bem modesta. No estabelecimento no alto do bairro Sumaré, em Barretos, nem sempre tem clientes. Enquanto não chega ninguém, o dono, Juvenil Pereira, se ocupa com outra coisa: ler. Agora viaja nas cinco visões pessoais do argentino Jorge Luiz Borges.
Botijões de gás, vassouras, caixas de ovos dividem espaço com algumas estantes que o comerciante mesmo construiu para os livros. Mas eles não estão à venda. Mas quem quiser pode levar emprestado. A biblioteca funciona há dez anos.
Juvenil empresta, em média, 100 livros por semana. E não tem muitas regras com eles não, ele anota os dados da retirada num caderninho, escrito à mão mesmo. Tem só o nome da pessoa e do livro. Nem endereço, nem telefone, nem data da retirada. Lá, é tudo na base da confiança e mesmo assim, dificilmente um livro deixa de ser devolvido. Só trazendo de volta é possível retirar outro.
Do sonho de um apaixonado pela leitura, surge o prazer que muitos não conheciam. Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, Fernando Sabino, Augusto de Campos, Machado de Assis, Darcy Ribeiro, Jaimes Joyce. A variedade é grande. Tem até livros científicos, jurídicos.
Tantas histórias atraem a curiosidade de quem começa a descobrir o mundo. Os seis mil exemplares tomam conta das prateleiras. Mesmo com pouco espaço, as doações continuam bem-vindas. Para quem quiser ajudar, o local fica na rua Sebastião Barros, 151, Alto do Sumaré.