A notícia chocou o País numa manhã de domingo. No auge do sucesso, a banda Mamonas Assassinas desaparecia num trágico acidente aéreo na volta de mais um show da turnê que correu o Brasil. O jatinho que transportava os integrantes do grupo de músicas e performances irreverentes chocou-se, no fim da noite do dia 2 de março de 1996, com a Serra da Cantareira, a poucos minutos do pouso em Guarulhos, cidade natal dos Mamonas.
Morreram todos os integrantes (Dinho, os irmãos Samuel e Sérgio, Júlio e Bento), o piloto, o co-piloto e dois assistentes dos artistas. A tragédia causou comoção nacional, e homenagens ao grupo foram promovidas em diversas cidades.
Completam-se 15 anos do acidente fatal, um dos episódios mais tristes da música brasileira. Durante a trajetória meteórica, Dinho (vocal), Bento Hinoto (guitarra e violão), Júlio Rasec (teclado), Samuel Reoli (contrabaixo) e Sérgio Reoli (bateria) chegaram a fazer quatro shows por dia. Seriam eles ”vítimas” do mercado?
O embrião dos Mamonas surgiu em 1989, sob o nome de Utopia, banda formada por Bento Hinoto e os irmãos Samuel e Sérgio Reoli. Durante um show em Guarulhos, o público pediu que eles tocassem o clássico do Guns’N’Roses ‘Sweet Child O’Mine’. Como não sabiam a letra, Dinho (apelido de Alecsander Alves), que estava na plateia, cantou a música, e sua performance agradou tanto que ele se tornou o vocalista da banda. O último a se juntar ao Utopia foi o tecladista Júlio Rasec. “A Fórmula do Fenômeno”, único disco do quinteto, já continha ‘Mina’, que mais tarde se transformaria na conhecida ‘Pelados em Santos’.
Após conhecer o produtor Rick Bonadio, a banda decidiu explorar o lado irreverente e mudou o nome para Mamonas Assassinas, uma redução de “Mamonas Assassinas do Espaço”, sugestão de Samuel Reoli. Na época, eles assinaram com a EMI após a insistência de Rafael Ramos, integrante do Baba Cósmica e filho do diretor artístico da gravadora, João Augusto Soares.
O primeiro e único disco, lançado em 1995, vendeu 3 milhões de cópias e fez com que a banda alcançasse enorme sucesso. Suas músicas eram cantadas em coro por brasileiros de todas as idades, e a agenda lotada incluía uma média de oito shows por semana. Com a repercussão positiva do álbum de estreia, o passo seguinte não poderia ser outro: Dinho e companhia invadiram a televisão, sendo alvo de disputa entre programas líderes de audiência. O desejo de tê-los ao vivo era tamanho que algumas emissoras chegaram a oferecer contratos de exclusividade para a banda – todos recusados, claro. Mesmo assim as engraçadas participações dos Mamonas Assassinas nos programas de TV Domingão do Faustão, Domingo Legal, Jô Soares Onze e Meia e Xuxa Park ficaram marcadas na época e são lembradas até hoje.
Fora das telas, chegaram a fazer sete ou mais apresentações por semana. Ali, no palco, não se limitavam apenas a tocar e a cantar. Eles encenavam, brincavam com a plateia, contavam piadas e mudavam o figurino entre uma música e outra. Era um dos poucos shows em que se podiam encontrar mães, pais, filhos e avós, o que os tornavam ainda mais cobiçados por contratantes dos quatro cantos do País.
Adultos, adolescentes e crianças sabiam de cor as letras escrachadas do grupo que mesclava rock com outros estilos de maneira original. Não havia uma música de trabalho – quase todas eram sucessos. Quem não se lembra, por exemplo, de “Pelados em Santos”, “Chopis Centis” ou “Bois Don”t Cry”?
Insubstituíveis
É difícil conhecer algum brasileiro que não saiba cantar algo como “mina, seus cabelo é da hora” ou “sabão crá-crá”. Mas porque será que o Mamonas Assassinas foi o único grupo com letras divertidas a fazer tanto sucesso? Rafael Ramos, produtor musical que descobriu os Mamonas, tem uma teoria: “tinha muita coisa estourando na época, mas ninguém fazia algo tão engraçado. O que veio depois era cópia”, explica, continuando: “eles eram muito carismáticos e, além disso, chegaram antes de muita gente”.
Enquanto o Mamonas Assassinas investia no rock progressivo para dar base às suas tiradas cômicas, outras bandas tentavam combinar as letras divertidas a gêneros diferentes. Era esse o caso dos Virgulóides, que misturavam samba e rock, dos Raimundos, essencialmente de hardcore, e do Baba Cósmica, banda do próprio Rafael Ramos. Mas a pretensão de Rafael era outra: “nosso som era bem diferente do que o Mamonas fazia. Também era divertido, tinha letras irreverentes, mas a gente gostava mesmo do Green Day, do punk-rock… Era outro lance”, conta. “Tínhamos o mesmo empresário, fazíamos parte do mesmo núcleo, mas a gente não pretendia ser parecido. As referências eram diferentes. Eles brincavam com o Rush”, conclui.
Após 15 anos do acidente, os músicos ainda são lembrados com carinho. A banda será homenageada pela agremiação Inocentes de Belford Roxo, sexta escola a desfilar no Grupo de Acesso A. Parte da família de Dinho viaja para o Rio para acompanhar o desfile.
O que é legal é que, mesmo depois de 15 anos, a classe artística ainda demonstra muito carinho. – diz Jorge, primo do cantor.
Outra produção que irá lembrar a história dos rapazes de Guarulhos, é um filme que ainda está em negociação. A produção já sofreu cortes de orçamento e tem dificuldade de conseguir apoio.
– É complicado que são quatro famílias, precisamos da aprovação de todos e todos tem interesse em lançar o filme. Esbarramos na questão de recursos, de incentivos. A prefeitura de Guarulhos não está cooperando muito.
A mãe de Dinho, Célia Alves, fica feliz em ver que seu filho ainda é lembrado:
– Ele tinha uma alegria natural e bonita e 15 anos depois o povo não esquece.
Sueli Reis, irmã do baixista Samuel e o baterista Sérgio, também fala com alegria do reconhecimento que o Mamonas ainda tem:
– Ver o carinho do público e da mídia pelos meninos depois de tanto tempo é realmente emocionante, pois, afinal, foram só 7 meses de sucesso!
Para marcar a data, a produtora Tatu Filmes lançará o documentário Mamonas, Pra Sempre, contando a trajetória do grupo desde os tempos em que a banda tocava covers e se chamava Utopia. O lançamento será no dia 27 de maio. Entre covers do rock nacional, o grupo entregava músicas autorais para lá de debochadas. Notando que as brincadeiras faziam sucesso, mudaram de rumo. Nascia então Mamonas Assassinas, que saiu do anonimato para ser um dos maiores fenômenos da música brasileira.
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Tudo é narrado na película, que só menciona o acidente. “Primeiro, esse foi o pedido das famílias. Eu também estava interessado pela vida e não pela morte dos músicos”, aponta o diretor. E justifica: “Todos já viram o suficiente sobre a tragédia, devidamente explorada na TV”.
O projeto original era um longa-metragem de ficção, que ainda deve ser lançado. Gravando entrevistas com familiares e amigos, o diretor encontrou material para o documentário, que abarca imagens inéditas e vídeos feitos pela própria banda. São registros de shows, bastidores e participações na televisão.
No auge de suas carreiras, Dinho, Bento, Samuel, Júlio e Sérgio entraram em um avião para nunca mais voltar. Por sorte, a banda não foi esquecida com a mesma rapidez com que alcançou o estrelato e, no que depender de Claudio Kahns e de seu documentário, sua história ainda será por muitas vezes recontada.
Relembre os principais sucessos da banda:
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