Você se lembra quando foi à última vez que foi a uma locadora alugar um filme? Pois é, nos últimos cinco anos o mercado de vídeo locadoras vem encolhendo. Segundo o Sindicato das Empresas Videolocadoras do Estado de São Paulo (Sindemvideo), hoje são 1,6 mil lojas, contra 4 mil em 2005, ou seja, 60% das lojas no estado fecharam. O que levou o setor a demitir 10 mil funcionários.
De acordo com Carlos Augusto, Diretor de Franchising da rede de locadoras 100% Vídeo e presidente da Associação Brasileira de Vídeolocadoras (ABV), o grande vilão do setor é a pirataria. “Em nível nacional a pirataria representa 75% do mercado de filmes. Hoje em dia é muito difícil competir com o camelô da esquina que vende quatro DVDs por 10 reais”, diz.
A rede 100% Vídeo, originária de Campinas, que contava com 84 unidades espalhadas pelo Brasil, já fechou 12 lojas entre 2007 e 2009. Em Campinas eram 11 locadoras, e agora são apenas quatro. Segundo Carlos Augusto, desde 2005, marco zero da ascensão da pirataria, houve uma queda de 34% no faturamento da rede.
Kauê Richard Nogueira, 24 anos, é atendente a dois anos da 100% Vídeo, localizada na Av. Coronel Silva Teles, no Cambuí, em Campinas. Para ele, a queda de movimento foi visível. “Desde que entrei aqui percebi que metade das pessoas que freqüentavam a loja já não aparecem mais”, conta. Isso reflete no número de funcionários. Segundo Kauê, a loja que já contou com 13 atendentes, hoje possui apenas seis.
Pirataria
O que compromete o mercado não é a falta de leis contra a pirataria, já que o artigo 184 do Código Penal Brasileiro prevê prisão de até quatro anos e multa para essa prática ilegal. O que atrapalha é a falta de fiscalização por parte dos órgãos responsáveis. “Em Campinas é um descalabro, não há uma fiscalização forte. Para você ter uma idéia, nossa rede fechou cinco lojas na cidade, sendo que em São Paulo, onde a fiscalização é mais rígida, não temos problema de faturamento”, afirma Carlos Augusto.
Para o presidente da Sindemvideo, Luciano Tadeu Damiani, a pirataria virtual é a que mais atrapalha os negócios. “A internet é o nosso maior problema. A pessoa não precisa sair de casa, já faz o download dos filmes no próprio computador”, diz.
Assim como a pirataria física – que é o comércio de DVDs piratas – a virtual também é muito bem organizada. M.F., que desde o começo do ano participa de grupos na internet que legendam filmes e séries, explica como é a organização. “A série ou o filme passa nos Estados Unidos, depois fazemos o download e dividimos, geralmente, em quatro partes. Depois do serviço feito, mandamos para um revisor que junta tudo e coloca em um site que recebe legendas de todos os grupos. Os uploaders pegam os arquivos legendados, juntam no vídeo e põe disponível para download em um formato bem leve”, conta.
De acordo com M.F., as pessoas envolvidas com esse tipo de pirataria não lucram com nada e, apesar de saber que essa é uma atividade ilegal, ele não se considera um criminoso, mas uma espécie de “divulgador”. “Criminoso por quê? Eu só legendo, não distribuo. Criminoso é aquele que pega esse conteúdo e vende”. E completa. “Eu ajudo muita gente a assistir. Pelas contas do ‘pessoal’, cada episódio de uma série tem, em média, 100 mil downloads. Não nego a ilegalidade, bem ou mal, nós divulgamos o seriado”, argumenta.
Esperança
Mas nem tudo está perdido no comércio de videolocadoras. Os novos formatos de mídia, como o Blu-ray, prometem impulsionar o mercado.
Essa tecnologia, por enquanto, não pode ser pirateada e pode ser aproveitada principalmente por pessoas que tem televisores em alta definição (HD). Eventos como a Copa do Mundo impulsionam a venda desses aparelhos, o Blu-ray tende a ter uma expansão no mercado. De acordo com o Carlos Agusto, os discos de alta definição Blu-ray já representam 25% dos filmes alugados nas lojas da rede 100% vídeo. “Neste ano já estamos tendo uma melhora nas locações em relação ao ano passado, e até o final de 2010, quando será lançado o Blu-ray 3D, nossa expectativa é de que 40% das locações sejam com essa nova tecnologia”, se anima o empresário. Tanto os presidentes da ABV e da Sindemvideo projetam o fim do DVD para os próximos quatro anos.
Mas há quem não se anime muito com o futuro desse tipo de comércio, como é o caso do atendente Kauê Richard. “Eu acho que as locadoras vão acabar sim. Os clientes não vão pagar sete reais por um filme, sendo que podem comprar os piratas”. E completa. “Medo de perder o emprego, todos têm. Mas acho que o fim das locadoras será daqui a uns cinco anos”, prevê.
Para Damiani, as locadoras não irão acabar, mas ele alerta. “Enquanto tudo não convergir para internet e continuar a existir as mídias físicas, as locadoras terão seu espaço no mercado”.
Fonte: Especial para EPTV.com – Pedro Leão