É preciso admitir. “Batman vs Superman: A origem da justiça”, que estreia no Brasil nesta quinta-feira (24), está longe de ser a bomba anunciada pelos mais pessimista.
Assista acima ao trailer de “Batman vs Superman: A origem da justiça”.
O filme tem boas cenas de ação e é uma base sólida para a história da Liga da Justiça. Ele joga luz sobre aspectos controversos do Batman e do Superman e consegue maquiar alguns dos exageros que fizeram de “Homem de aço” (2013) uma produção questionável.
Mas a continuidade dessa relação com o diretorZack Snyder segue sendo a pior parte do universo cinematográfico da DC.
O cineasta empolgou com seu estilo videoclipe de filmar em “300”, mas isso foi lá em 2006. Hoje, o abuso de cortes e cenas computadorizadas parece muito pouco para personagens do nível de Clark Kent e Bruce Wayne.
A obsessão de Snyder pelo superlativo e pelo artificial fica longe de tirar o máximo que Batman e Superman podem oferecer.
Superman
É difícil contar uma história sobre o Superman hoje. Criado em 1938, o super-herói surgiu quando não havia grandes nuances entre o bem e o mal, causa e consequência. Ele é a manifestação máxima da bondade, e sempre teve carta branca para agir da forma que achava necessária para impedir as forças que querem acabar com o planeta.
E assim ele fez, por décadas, sem grandes consequências para a humanidade, que aplaudia seu messias por salvá-la mais uma vez. Mas como contextualizar um super-herói desses em um cenário como o de hoje?
Essa liberdade começou a ser questionada em “Homem de aço” e alcançou um novo nível em “Batman vs Superman”. O filme coloca o herói contra a parede e tenta demolir sua bondade e fé no homem, o que faz aflorar seu lado humano: fraco, inseguro, egoísta.
Esse é um mérito e tanto da trama de Zack Snyder. A armação de Lex Luthor para indispor os dois maiores super-heróis da DC é maquiavélica, terrorista e desperta o que há de pior nos dois personagens.
“Batman vs Superman” foi vendido de forma equivocada. O ponto alto do filme não é o confronto em si, mas o que leva à batalha entre eles.
Batman
Apesar de ser essencialmente um filme sobre o Superman, é o Batman de Ben Affleck o elemento mais polarizante da produção. Esqueça a vida de playboy imortalizada por Michael Keaton e até mesmo as dúvidas existenciais e morais de Christian Bale.
Aqui, o Batman é outro: violento, inescrupuloso, ciente de sua criminalidade e obcecado por deixar um legado. Algo que surgiria ao livrar a humanidade da ameaça do Superman.
Este homem-morcego é totalmente inspirado na versão do super-herói de “O cavaleiro das trevas” (1986), clássica HQ escrita por Frank Miller (“300”, “Sin City”) que mudou o rumo do personagem e deu um tom (ainda mais) sombrio e lunático ao Batman.
O filme tem cenas e diálogos vindos diretamente dos quadrinhos, sem tirar nem por. E o próprio confronto com o Superman é originado nesse arco de histórias.
Apesar do receio dos fãs, Ben Affleck consegue fazer bem esse papel de super-herói mais velho, violento e amargurado, embora “Batman vs Superman” não dê muito espaço para o ator entregar uma baita atuação como o 5º homem-morcego dos cinemas. Isso vai ficar para o filme solo, que também terá Affleck no papel principal.
Por isso, quem se identifica com essa linha mais brutal do homem-morcego deve sair satisfeito dos cinemas. Mas os puristas da história de Bruce Wayne podem ficar incomodados com o fato de Batman usar armas, torturar adversários e até matá-los, se for necessário.
Lex Luthor
O vilão dos quadrinhos ainda está lá, mesmo que debaixo das camadas de hipsterização colocadas sobre o personagem. Ainda é difícil descolar Jesse Eisenberg de sua imagem como Mark Zuckerberg em “A rede social”, principalmente quando seu Lex tem muitas das afetações dadas pelo ator ao criador do Facebook.
Além dos blazers combinados com camisetas moderninhas, da cara de jovem gênio excêntrico e da velha vozinha fina, há uma mente brilhante obcecada em mostrar ao mundo a ameaça que o Superman representa. E que não se importa em ultrapassar barreiras legais ou éticas para atingir seus objetivos.
Ao contrário das impressões causadas pelo trailer, o Luthor de “A origem da justiça” funciona muito como o motor da trama. Ele age nas sombras para motivar o embate do título – mesmo que suas motivações nunca sejam verdadeiramente explicadas.
Mulher-Maravilha
Muito já se comentou nas redes sociais, após as primeiras exibições nos EUA, que a heroína é a melhor parte do filme. A Diana da atriz israelense Gal Gadot (da franquia “Velozes e furiosos”) realmente merece destaque. Ela mostra todo o poder e a força da personagem, mas é menos aproveitada pela trama do que deveria.
Ela está em cenas sem tanto destaque – e/ou explicações. A personagem participa de maneira digna do grande desfecho, mas o roteiro nunca se preocupa em explicar quem é, de onde vem, do que se alimenta…
Tudo bem que a maioria das pessoas já ouviu falar da Mulher-Maravilha. Mas será que todos sabem que se trata da princesa super-poderosa das Amazonas, retiradas da mitologia grega?
Filme
Com tramas paralelas desnecessárias, as 2 horas e 33 minutos do filme podem parecer arrastadas, mas o resultado tem chance de superar suas expectativas.
A narrativa central gira em torno do que foi mostrado no trailer, criticado por contar demais da trama, mas é mais satisfatória do que o show de destruição descerebrada de “Homem de aço”. Os furos de roteiro irritam, mas são inevitáveis ao colocar um homem comum fantasiado de morcego em oposição a um alienígena indestrutível que poderia dar fim ao mundo inteiro em algumas horas.
Seria necessário um grande diretor para aparar cada uma das arestas geradas por tal embate. Ainda mais quando se joga na mistura uma semideusa misteriosa, um vilão da geração start-up e um monstro brutalmente gigantesco. Você sabe e nós sabemos: Zack Snyder não é este grande diretor.
“Batman vs Superman” é um ponto de partida digno para o futuro da Liga da Justiça nos cinemas, mas o envolvimento de Snyder na saga precisa ser repensado. Se o cineasta teve problemas agora, imagina com Flash, Aquaman e Ciborgue, todos com filmes previstos para os próximos anos, na equipe.
Bruno Araujo e Cesar Soto
Do G1, em São Paulo