Dez motivos para amar o carnaval
Na quinta-feira, tudo volta ao normal: o trânsito, o trabalho e a rotina sem confetes, nem serpentinas. Efêmero, o carnaval é a oportunidade perfeita para se divertir durante quatro dias sem precisar se preocupar com mais nada.
Só os foliões podem aproveitar a festa? De jeito nenhum. Até os mais sossegados têm as merecidas folgas carnavalescas, que não precisam necessariamente terminar no sambódromo ou atrás do trio elétrico. Como não amar? Veja dez motivos para curtir essa data, listados por pessoas que têm o carnaval no coração:
1. A festa é para todas as idades
Não existe nenhuma regra que estabeleça quem deve se portar como criança e quem deve ser adulto: no carnaval, todo mundo é livre para jogar confetes, serpentina, vestir a fantasia que quiser e brincar sem medo de ser feliz. “Para pular carnaval nos clubes, eu e meus amigos fazíamos as nossas próprias roupas, nos pintávamos, sem preguiça nenhuma. São quatro dias para você se jogar”, diz Maria Pires Barbosa de Almeida, a dona Perlu, de 65 anos.
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2. “Mesmo que você não curta o carnaval, são quatro dias para ficar à toa”
Parece óbvio dizer isso, mas não tem quem não goste de desacelerar um pouco a rotina e passar quatro dias longe do trabalho. Para quem ama o carnaval, é ainda melhor, já que são dias para conferir os desfiles das escolas de samba, pular nos bloquinhos de rua e se divertir, mesmo que seja uma segunda-feira. “É como se fossem mini-férias, você pode fazer o que quiser nesses dias de folga. Tem inúmeras festas ao mesmo tempo, em todos os lugares do Brasil, para todo mundo”, defende a blogueira Bia Pattoli, que no fim de semana retrasado estava no Rio de Janeiro com toda a família para ver o ensaio da Salgueiro.
3. “É um tempo de alegria”
Mesmo que existam outros feriados no Brasil, nenhum deles é tão feliz quanto o carnaval. “É uma energia linda que faz com que a gente conheça novas pessoas a cada nova festa, cante a mesma música em uma voz só, esqueça todos os problemas e só pense em se divertir, mesmo”, conta Carolina Caixeta, publicitária que já passou o feriado em outros países e ainda não conseguiu encontrar uma festa melhor do que a brasileira.
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4. “Fica todo mundo em um clima de igualdade”
Uma das vantagens do carnaval é que você nunca vai estar sozinho na multidão, já que nos quatro dias (quase) todo mundo é igual e pensa na mesma coisa: se divertir. “É a época para você se soltar, seguir seus instintos. Dá para cantar na rua, dançar sozinho, pular, que ninguém vai te olhar torto ou ameaçar te bater”, descreve o publicitário Pedro Cerqueira. Quando chega o feriado, Pedro volta para sua cidade natal, São Luís do Paraitinga, e comemora com a família toda, que tem o carnaval no sangue. “Minha mãe e meus tios tinham uma banda e faziam shows no carnaval. Lembro de cochilar na caixa do violão quando ainda era pequeno”, conta ele.
5. “Não é coisa de alienado: carnaval dá trabalho”
Em cada canto do país, uma festa diferente. O carnaval é uma boa oportunidade para conhecer a fundo a cultura brasileira, que não se restringe aos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo. “As pessoas deveriam ter mais orgulho dessa nossa festa, que é uma coisa única no mundo. Dá um baita trabalho fazer o carnaval, colocar um bloco na rua ou uma escola na avenida. Nesse último mês, as pessoas que trabalham com isso estão dormindo de três a quatro horas por noite, no máximo, porque elas querem fazer a festa acontecer”, argumenta o jornalista Luiz Pattoli.
6. “As pessoas dão um jeito de se reunir”
Uma das coisas mais improváveis desse feriado é passar os quatro dias sozinho. No fim das contas, todo mundo aproveita para pular nos bloquinhos com os amigos, viajar em grupo ou reunir a família para um almoço especial, só para não deixar a data passar em branco. “Para mim, uma das coisas mais legais é coletividade, todo mundo reunido numa pracinha, tomando cerveja e relaxado. Todo mundo fica feliz junto”, acredita Carolina Caixeta.
7. “É uma energia inexplicável, que faz você se mexer”
Não há como negar que o carnaval é carregado de energias positivas, resultado da alegria e descontração das pessoas que fazem a festa acontecer todos os anos, seja por meio da organização ou da participação. “Não tem como explicar, é um clima contagiante, você fica feliz por tabela e se deixa levar. Quem diz que não curte uma batucada no carnaval é porque nunca ficou do lado de uma bateria de escola de samba”, afirma Bia Pattoli.
8. “Dá pra se soltar e seguir seus instintos”
O feriado cai justamente na estação mais quente do ano, ou seja, as pessoas se sentem mais confortáveis para tirar do guarda-roupa as peças coloridas, vestidos, regatas e bermudas. Resultado? Carnavalescos menos carrancudos e mais alegres. “Eu tenho esse estilo meio tropicalista, amo roupa estampada e tenho cabelo comprido, então, aproveito o carnaval para me soltar”, confessa Pedro Cerqueira.
9. “Você pode festejar onde bem entender”
A ideia de que o carnaval obriga todo mundo a escutar o mesmo tipo de música e ver os desfiles das escolas de samba não é nada verdadeira. Como a própria cultura brasileira, o carnaval é multifacetado: a festa de São Paulo é bem diferente do que rola em Salvador, que por sua vez tem um carnaval bem diferente do de Recife. Tem espaço e festa para todo mundo. Dá pra pular atrás do trio elétrico, ir para baladas específicas, acompanhar os ensaios técnicos das escolas ou juntar os amigos para fazer um baile mais tradicional.
10. “Os blocos de rua são democráticos”
De uns anos para cá, os blocos de rua ganharam força e muitos adeptos, principalmente entre os que não curtem a ideia de virar a madrugada no sambódromo ou em casa, assistindo aos desfiles na televisão. Bairros tradicionais de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro reúnem milhares de pessoas para cantar marchinhas antigas e jogar serpentina e confete, provando que o carnaval é realmente para todo mundo. “O barato dos blocos de rua é que você não precisa comprar um abadá para participar. É uma festa do povo, todo mundo pode pular, independentemente da cor, do credo, se está bem vestido ou não. Todo mundo pode se divertir igual”, explica Cleber Mayo, diretor de alegoria da Mocidade Alegre.
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Dez motivos para odiar o carnaval
Os primeiros agudos do agogô e os batuques no tamborim dão um frio na espinha de alguns brasileiros. Tido por uma legião como a representação mais pura da cultura nacional, o carvanal é considerado por outros a pior época do ano para ficar no País. Ouvidos pelosDelas, personagens elencaram os dez motivos para odiar o carnaval.
Apelação com a nudez e os excessos lideram os desabafos. O mesmo discurso citado por todos foi sobre como o carnaval deixou de exibir o melhor do Brasil e passou a ressaltar o que é mais desprezado, como o desapego às regras morais de boa convivência e desrespeito ao próximo. Outros citaram também a influência política do feriado, que elimina importantes discussões na sociedade.
Leia os principais motivos para ser inimigo do ziriguidum:
1. “O carnaval não é o mesmo de antigamente”
Para a estudante Fernanda Bondioli, de 22 anos, a atual festa perdeu o real sentido e está muito longe dos antigos bailes e festas de salão, com as tradicionais marchinhas. “Respeito a origem do carnaval e do samba e a cultura das escolas. Mas isso já se perdeu faz tempo. Hoje, a festa se resume a dinheiro e corpo”, diz. O excesso de “peito e bunda” na televisão e nas ruas liderou as reclamações entre homens e mulheres. A professora Priscila Rocha, de 35, por exemplo, deixou de participar do carnaval por causa dos excessos. “Tudo é sempre associado à nudez e traição. Não ensina nada para as futuras gerações”.
2. “O carnaval cega a sociedade e apaga os problemas do País”
O ódio ao feriado nacional e seus efeitos negativos na sociedade foram a justificativa do músico paulista Eduardo Escobar, de 25 anos, compositor da música “Ópio” e vocalista da banda de rock Loccix. Para ele, durante o feriado, importantes discussões sociais são esquecidas e perdem espaço para os desfiles. “O carnaval é uma máscara que cega a sociedade. Temos importantes manifestações nas ruas, por exemplo, e só se ouve sobre preparação para os desfiles”.
3. “O ano só começa depois do feriado”
Para muitos, 2014 ainda não engrenou e a espera pelo carnaval é responsável por isso. Durante uma busca por um novo emprego, por exemplo, é comum ouvir a frase: “Ah, eles só contratam depois do carnaval”. “E todo o ano é assim, a mesma história. Se algum processo está lento ou algo não andou, logo pensam que é porque o ano ainda não começou. Virou desculpa para a lerdeza e má vontade”, diz Michelle Lemes, de 26, que trabalha como secretária em São José dos Campos, interior de São Paulo.
4. “Todos os locais estão lotados e os preços nas alturas”
É unanimidade. Os quatro dias livres do feriado são bem recebidos até por quem odeia o carnaval. Mas o que fazer com os dias livres? Para os avessos aos famosos “bloquinhos” de rua, ir a bares e restaurantes pode ser uma ação arriscada. “Não dá para fugir do País? Então o jeito é estar disposto a pagar o preço. Todos os locais estão abarrotados de turistas e os preços são inviáveis. Você chega a pagar R$ 5 em uma garrafinha de água”, desabafa a produtora de TV Bárbara Aires, de 25 anos, que mora há oito anos no Rio de Janeiro. Em São Paulo, Priscila conta que prefere ficar em casa e até trabalhar com aulas particulares durante o feriado. “Busco manter minha vida o mais normal possível”, conta.
5. “Fugir dos que pensam que todo brasileiro deve amar a folia”
Assumir para o mundo sua personalidade anticarnavalesca tem um preço. Além do julgamento dos foliões, você pode acabar ficando de fora de todos os planos de viagens dos amigos e receber o título de careta. Em Florianópolis (SC) há quase dois anos, Fernanda Bondioli já ficou de fora de vários programas, mas não se importa muito com os possíveis rótulos. “Nasci brasileira, mas sou obrigada a gostar de carnaval e exibir meu corpo? Acho que cada um tem o direito de curtir o que quer”, explica.
6. Abandono dos conceitos básicos da moralidade
Caminhar por uma rua que foi palco de blocos é um ato de coragem, explica a estudante de direito Ana Luisa Gimenes, de 19 anos. Se, no cotidiano, usar paredes e árvores como banheiro e ter relações sexuais em público são atos condenáveis, no carnaval isso parece estar liberado. “Parece que as pessoas pensam que o carnaval é um passe livre ao desrespeito. Todo canto vira mictório. Se você não faz isso no dia a dia porque fazer nesses quatro dias?”, conta. A solução para Ana Luisa? Fugir do Brasil. No próximo final de semanal, ela embarca com a namorada para Argentina. “Estou realizando um sonho”.
7. “Lidar com bêbados, suor alheio e aperto por todos os lados”
Celebrações de carnaval não são ideais para quem não aprecia contato físico com estranhos. Bárbara conta que a soma aperto, suor e álcool é a responsável por afastá-la de blocos e quadras de escolas de samba no Rio. Já para Michelle o trauma foi o exagero com o álcool quando tinha 14 anos no meio do carnaval. “Tomei meia garrafa de pinga sozinha no meio de um bloco em Guararema (SP). Meus amigos estavam tão bêbados que ninguém conseguia me ajudar. Fui deixada ali no chão de um bar sujo”. Além de espantar a solidariedade com amigos, o álcool acaba representando outros perigos quando associado ao volante.
8. “Clima excessivo de pegação e desrespeito às mulheres”
O carnaval é condenado pelos religiosos por ser a “festa da carne”. Campanhas do governo contra a Aids e doenças sexualmente transmissíveis ganham força devido ao número expressivo de relações casuais. “As pessoas surtam e conquistar alguém vira um objetivo. Só o número importa, quanto mais melhor”, explica Eduardo. E as mulheres podem sofrer durante essa caçada. Com o calor, os shortinhos e vestidos mais curtos são interpretados como “convites”, desabafa Fernanda. “Se uso um shorts é porque estou com calor e não quero ser alvo de cantadas agressivas”. Puxadas de cabelo, beijos forçados e baixarias ao pé do ouvido são reclamações comuns do mundo feminino.
9. “Alegria em excesso é falsidade”
Amantes dos confetes e serpentinas citam o feriado como um “momento para esquecer os problemas e ser feliz”. No final, a Quarta-Feira de Cinzas vem com o peso da culpa e sentimento vazio. “É um êxtase de alegria falso. A pessoa está na pior fase da vida, mas ali no bloco pula e canta. Acho muito triste”, conta Bárbara. Para ela, há muita futilidade por uma data passageira. Eduardo concorda e diz ainda que a data não é motivo de celebração para o País. “É só olhar os milhões de reais que são jogados fora. O governo poderia aplicar esse dinheiro no próprio povo e dar motivo para o brasileiro comemorar nas ruas”.
10. “A televisão aberta só mostra uma coisa: carnaval”
Os inimigos do carnaval celebram uma conquista durante o feriado: a assinatura da TV a cabo. Depender da programação da televisão aberta pode significar uma sentença de morte. “Normalmente passo em casa, mas devo isso à TV a cabo. O carnaval domina todos os canais, todos os programas e até as novelas. É desesperador”, desabafa Ana Luisa. Para Eduardo, a grande mídia não respeita a pluralidade de opiniões. “Aquecimento das escolas, desfiles eternos e depois apuração, como se todos os brasileiros gostam e se importam”.
do IG