O papa Bento 16 indicou nesta quinta-feira (14) que pode ficar em isolamento e distante dos olhos do público após deixar o papado no fim do mês. “Mesmo me retirando para rezar, estarei sempre perto de todos vocês e tenho certeza que vocês estarão perto de mim, mesmo se eu permanecer escondido do mundo”, disse ele em durante uma reunião com padres em Roma.
O pontífice de 85 anos surpreendeu a Igreja Católica e o mundo na segunda-feira (11) ao anunciar sua renúncia , a primeira de um papa em cerca de seis séculos . Ele, que se tornou papa em 2005, deu como justificativa para sua decisão a idade avançada e a falta de vigor físico.
Aparentemente, o papa planeja sair completamente dos holofotes, entretanto o Vaticano espera que ele passe os próximos anos em um mosteiro na Santa Sé, o que pode tornar sua relação com seu sucessor uma fonte inesgotável de especulações.
É esperado que um novo papa seja eleito por cardeais antes da Páscoa , que esse ano cai no dia 31 de março. O conclave que definirá o sucessor de Bento 16 começará a partir do dia 15 de março .
O papa Bento 16 deu essas declarações durante uma espécie de despedida de centenas de sacerdotes da Diocese de Roma. Ele fez um apelo ao espírito reformista do Concílio Vaticano II, que ocorreu nos anos 1960.
Esse foi o segundo dia seguido em que Bento 16 envia uma mensagem ao seu sucessor e aos cardeais que participarão da eleição do próximo papa sobre o direcionamento que a Igreja deve tomar após sua renúncia. Enquanto seu discurso de despedida na quarta-feira teve um tom agridoce, Bento 16 foi mais combativo nesta quinta.
O papa era um jovem especialista em teologia na ocasião das reuniões do Concílio Vaticano II (1962 – 1965), que levaram a Igreja Católica ao mundo moderno, com a confecção de documentos importantes sobre as relações inter-religiosas da igreja e seu lugar no mundo.
Bento 16 passou boa parte de seus oito anos no papado tentanto corrigir o que considerava uma interpretação errônea do Concílio, insistindo que não significava uma quebra revolucionária com o passado, como os católicos mais liberais pintaram, mas uma renovação e um despertar das melhores tradições da Igreja.
Ele culpou as reportagens da mídia, dominantes e “acessíveis a todos”, por esses erros de interpretação, que acabaram por alimentar ideias erradas na população sobre o Concílio. Com o passar dos anos, isso, segundo o papa, provocou “tantas calamidades, tantos problemas, tantas misérias: seminários fecharam, conventos fecharam, a liturgia foi banalizada”.
“Nosso trabalho nesse ‘Ano da Fé’ é trabalhar para que o verdadeiro concílio, com a força do Espírito Santo, seja verdadeiramente realizada e que a igreja seja realmente renovada”, afirmou.
Acidente
O Vaticano confirmou nesta quinta que Bento 16 bateu sua cabeça durante uma viagem ao México em março de 2012, mas negou que o acidente tenha qualquer “relevância” em sua renúncia.
Essa foi a mais recente revelação sobre o estado de saúde do papa desde o anúncio de sua abdicação e levanta suspeitas sobre as condições de saúde do pontífice. Na terça-feira, o Vaticano disse pela primeira vez que Bento 16 possui um marca-passo .
O jornal italiano La Stampa afirmou em uma reportagem publicada nesta quinta-feira que o acidente no México provocou sangramento e fez com que Bento 16 se levantasse no meio da noite. Segundo a reportagem, havia sangue na cabeça e nos lençóis.
O porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi, confirmou o incidente, mas disse que “não foi relevante na viagem e não afetou sua agenda ou sua decisão (de renunciar)”.
O jornal do Vaticano L’Osservatore Romano afirmou no início da semana que a decisão de renunciar foi tomada por Bento 16 logo após sua ida ao México e Cuba, considerada exaustiva pelo pontífice.
iG São Paulo Com AP e Reuters